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Urna eletrônica
Bem, terminadas as eleições municipais, anunciamos a grande vencedora: a classe dominante, aquela que, de acordo com dados recentes, sendo a 1% mais rica do Brasil, concentra cerca de 50% da riqueza do país. E a grande derrotada, embora não perceba isso, é a classe trabalhadora. Sim, em algumas cidades essa classe foi representada por partidos da esquerda que obtiveram algumas vitórias. Porém, no Brazilzão, o centro, centro-direita, a direita e a extrema direita foram as grandes vencedoras. Resultado: o povo necessitado de políticas públicas assistirá conchavos, conluios, malversação de verbas, favorecimento de empresas em licitações fraudulentas, desvios etc. Mais do mesmo.
Em São Paulo, o atual prefeito Ricardo Nunes, apesar de não ter trabalhado nos três primeiros anos de sua gestão, de ser o responsável pelos apagões, de ser investigado por ter celebrado inúmeros contratos sem licitação e desvio de verbas de creches, além de ligações com o crime organizado, foi reeleito. Já Guilherme Boulos, o candidato que propôs mudanças, gestão séria, implantação de serviços essenciais como o Poupatempo da Saúde, perdeu por uma diferença de 20%. Tarcísio de Freitas, o bolsonarista moderado que cometeu crime eleitoral no dia da eleição, dificilmente será declarado inelegível pela justiça eleitoral. Talvez uma multa de 5 mil reais e só. Impune, assim como Marçal, dará trabalho em 2026.
No Rio de Janeiro, comemoramos somente a derrota do candidato extremista de direita apoiado por Jair Bolsonaro, já que Eduardo Paes, reeleito em primeiro turno, representa muito mais os interesses da classe dominante do que a dominada. Mas se a esquerda progressista não foi vencedora, a extrema direita também fracassou, já que os candidatos mais radicais apoiados por Bolsonaro, como Eder Mauro em Belém, André Fernandes em Fortaleza, Fred em Goiânia, Queiroga em João Pessoa e Cristina Graeml em Curitiba foram derrotados.
Se a elite do país foi a grande vencedora no segundo turno dessas eleições, o grande perdedor foi Bolsonaro, que só conseguiu emplacar Abílio Brunini em Cuiabá e Emília Corrêa em Aracaju. Além de grande derrotado, o capitão em várias ocasiões traiu seu próprio partido, o PL, o que deixou Valdemar da Costa Neto furioso. Aliás, já faz tempo que Valdemar está percebendo que os 70 mil reais que paga a Bolsonaro e Michelle são dinheiro jogado fora, já que eles não conseguem mais juntar nem uma dúzia de pessoas nas manifestações que promovem.
Enquanto isso, a esquerda trata de não só lamber as feridas, mas também de achar culpados. Não percebe que abandonou as periferias que acabaram sendo ocupadas pelos pastores evangélicos, quase todos de direita. Adotou a prática de trabalhar dentro de gabinetes refrigerados e fazer análises à distância. O ex-ministro Renato Janine afirmou ontem que Boulos não entendeu que o que move os microempreendedores é o desejo de liberdade. Não, ministro, o que os move é a falta de oportunidades, pois ninguém pedala o dia inteiro com um mochilão nas costas por causa da sensação de liberdade que o vento no rosto lhe traz.
Por fim, falta falar que a derrota da esquerda nas periferias e nas cidades do Nordeste, onde Lula venceu com folga em 2022, tem muito ou quase tudo a ver com a falta de comunicação do governo federal. Só isso pode explicar como um governo que está conseguindo bons índices em todos os setores e que retomou os programas sociais, não conseguiu vencer nesses locais. Lula afirmou recentemente que o primeiro ano de governo foi para o plantio e o segundo, para começar a colheita. Porém, não conseguiu colher bons frutos eleitorais e isso preocupa muito sua reeleição em 2026.
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Fernando Castilho
Arquiteto, Professor e Escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, A Sangria Estancada