Proa & Prosa

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Oh! Eiras

O rito de entrega do título teve lugar no último dia 27 de maio, às sete da noite, em sessão solene do secular Senado da Câmara, presentes os camaristas, em sua ampla e qualificada maioria. Momentos inesquecíveis.

Fonseca Neto

Quarta - 12/06/2024 às 20:31



Foto: El Pais - El País Oeiras
Oeiras

Dos brejais inhumeiros para as tranqueiras brejeiras... Eis-me, filho das sertanidades e ribeiras.     

A cidade de Oeiras conferiu-me a cidadania titular de sua municipalidade. O título vem gravado com uma carga de significados bastante que me enche de enlevo e ainda mais benquerer.

Vem de longe o xodó com a antiga cidade do sertão piauiense, sobre a qual ouvi falar desde o tempo da minha infância no interior do Maranhão, zona centro-leste, não muito longe da primeira capital do Piauí. Ouvia falar dela como “cidade velha”, tal São Luís, a capital maranhense. O que foi em mim ganhando contornos de significação à medida que cresci e liguei-me aos estudos mais detidos da matéria e conhecimento designados por História.

É assim declarada a posição da Câmara municipal de Oeiras ao embasar a concessão. De fato, tenho estudado e escrito diversos textos sobre a cidade, sobretudo aspectos de sua formação social-histórica.

O rito de entrega do título teve lugar no último dia 27 de maio, às sete da noite, em sessão solene do secular Senado da Câmara, presentes os camaristas, em sua ampla e qualificada maioria. Momentos inesquecíveis.

Sessão presidida pelo vereador Francisco Espedito Nunes Martins e secretariada por Heloísa Helena, nos atos preliminares houve a execução dos hinos nacional e municipal, além da execução de três peças musicais, com canto coral e grande destaque para o menino-músico Mateus, saxofonista, já com jeito de virtuoso nesse instrumento, o mais belo na família das trompas, de par com o sousafone.

Seguiram-se os discursos protocolares de recepção e de agradecimento, o primeiro pelo vereador-proponente do título, vereador Letiano Vieira da Silva, e outro, por mim. Letiano capturou fatos e paisagens de meus percursos, em sete décadas, com que compôs uma caracterização do que sou nessas várias estações da vida.

À mesa diretora também sentaram o vice-prefeito de Oeiras, o secretário municipal de Cultura, historiador Júnior Viana, a presidente do Instituto Histórico de Oeiras, professora Inácia Rodrigues e o representante da Academia Piauiense de Letras, professor Zózimo Tavares Mendes. Nas galerias, estudantes e professores, familiares e outros mais convidados. Com vibrante presença, o presidente da Fundação Nogueira Tapety, Carlos Rubens Campos Reis, presenteou o homenageado com exemplar da bandeira municipal.

Que deveres são reiterados e gravam as titularidades dessa espécie? Deveres atinentes à economia dos afetos e de forja cultural cívica. Oeiras é uma expressão real de valor patrimonial-histórico-cultural que precisa ser defendida, amanhada e divulgada, para não sucumbir sob determinado esquecimento dos pósteros.

Por quê? É um lugar-repositório cheio de referências relevantes sobre a fundação do que se tem chamado de Piauí, nas últimas 35 décadas. Décadas da invasão e assentamento de gente europeia no espaço-vale do rio Parnaíba. Um espaço vital, pleno de vida humana, aliás, pleno de vida de toda qualidade.  

Mas lembrar essa episódica, isto é, lembrar a obra colonial? Não é isso que a antiga tranqueira do Mocha logo traz à lembrança? Sim, para entendermos no hoje sobre quais experiências passadas não devemos continuar praticando. A destruição obrada pelo sapiens do próprio sistema de vida ofertado pelo engenho da criação natural.

A hoje cidade de Oeiras conserva na sua configuração de lembrança e história os significantes nucleares da arquitetura social e política piauiense. Sintetiza um memorial de referências de bastante valor de ancianidade muito útil para entender o viver piauiense e de como esse viver é indiciário de traumas impostos à humanidade quase supressa pela agressão colonizadora.

No mais das vezes, por escolhas de índole apaixonada que positivam referido passado, a devastação colonizadora se nos é apresentada tal sendo uma espécie inevitabilidade de uma ordem civilizatória plena de valores da grandeza humana e isto é uma mentira e logro memorial colossais.

Amar a cidade trissecular da colonialidade lusitana? Amar a cidade e condenar à superação a submissão colonial insistente. Ela, dantes, ouviu a Esperança e a Militana.          

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Fonseca Neto

Fonseca Neto

FONSECA NETO, professor, articulista, advogado. Maranhense por natural e piauiense por querer de legítima lei. Formação acadêmica em História, Direito e Ciências Sociais. Doutorado em Políticas Públicas. Da Academia Piauiense de Letras, na Cadeira 1. Das Academias de Passagem Franca e Pastos Bons. Do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.

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