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O afroempreendedor Kelson Fontenele, proprietário do Estúdio Fios Afro, diz que manter-se negro requer coragem
Manter os cabelos crespos naturais e assumir tranças ou dreadlocks não é somente uma escolha estética para a comunidade negra. De acordo com o afroempreendedor Kelson Fontenele, proprietário do Estúdio Fios Afro, essa é uma forma de resistência que enfrenta séculos de padrões eurocêntricos. "Manter-se negro, tornar-se negro, é um ato de muita coragem. Parece ser um ato radical porque rompe com uma estrutura tradicionalmente eurocêntrica", afirma o empresário, que atende em Teresina, no bairro São João, zona Sudeste da capital.
Durante participação no podcast do Portal Piauí, Kelson explicou A jornalista Malu Barreto, que seu não se trata apenas dos serviços de beleza. "Nosso papel é acolher essas pessoas que chegam com medo, muitas vezes traumatizadas por experiências anteriores em salões que não sabiam lidar com cabelos crespos", revela. O empreendedor conta que muitos clientes chegam receosos após passarem por situações constrangedoras, como ter o cabelo alisado sem consentimento durante um simples corte de pontas.

A transformação que ocorre no salão é tanto capilar quanto social, segundo Kelson. "É uma transição social, porque vai mexer com todo o ambiente que essa pessoa está inserida". Ele relata casos marcantes, como o de um cliente que decidiu abandonar o alisamento após ser desafiado por seu antigo barbeiro. "Esse cliente chegou muito inseguro, e conforme foi experimentando novos cortes e tranças, foi ganhando autoestima. Hoje, seis anos depois, é outra pessoa".
O empreendedor critica a dupla moral social quando o assunto é estética negra. "Quando pessoas brancas usam dreads ou tranças, são socialmente mais aceitas do que quando uma pessoa negra usa. Os olhares que vêm em minha direção quando estou com meus dreads são de julgamento, mas se estivesse com cabelo raspado seria mais tolerado", desabafa.
Sobre a evolução da aceitação da estética negra, Kelson é cauteloso. "A gente tem mais visibilidade, mas foram mais de 500 anos de escravidão. Estamos há apenas cerca de 100 anos pós-escravidão. Esse racismo está no nosso inconsciente coletivo". Ele acredita que o avanço existe, mas ainda é lento, citando pesquisas que indicam que talvez só na nona geração haja uma mobilidade social mais igualitária para a população negra.
No Estúdio Fios Afro, os serviços incluem tranças, cortes masculinos e femininos especializados em cabelos com curvatura - crespos, cacheados e ondulados - além de venda de produtos específicos para esses tipos de cabelo. Kelson destaca que o espaço também atende pessoas não negras, mas mantém o foco no público negro, criando um ecossistema de profissionais afroempreendedores que se unem em vez de competir.
O estúdio está localizado no bairro São João, zona Sudeste de Teresina, próximo ao Teresina Shopping. Para quem quiser conhecer o trabalho, as redes sociais podem ser encontradas como @estudiofiosafro.
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